segunda-feira, 23 de março de 2015

O real sentido da liberdade

Pêssach é a festa da libertação. A passagem da totalidade de um povo, da escravidão para a liberdade. Ou melhor, a transformação de uma multidão de escravos em um povo livre! Livre, para quê? Para seguir qualquer rumo? Para que cada um escolhesse o caminho que lhe parecesse mais apetecível? Para reproduzir a degeneração da sociedade onde fora escravizado? Não. Livre para aceitar a missão de praticar a justiça, defender os órfãos, as viúvas e todos os oprimidos, alcançar os mais altos padrões de moral, dignificar a família e difundir o monoteísmo ético para toda a humanidade.

Uma missão inimaginável ante os padrões de iniqüidade, imoralidade e injustiça vigentes naquela época. Um caminho cheio de obstáculos a ser seguido, que se estende na dimensão do tempo, entre avanços e recuos, e que continua em nossos dias.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Aspecto verbal no grego antigo

SILVIA COSTA DAMASCENO (Professor Adjunto de Língua e Literatura Grega da UFF e Coordenadora do Setor de Grego da mesma Universidade)

O estudo da Gramática situa-se entre as várias indagações feitas pelos gregos, na busca do entendimento do mundo. Discutia-se, a partir do V século a.C., o caráter natural ou convencional da língua: seria ela natural, estaria em consonância com a physis, adviria de princípios eternos e imutáveis, fora do próprio homem, ou seria uma instituição convencional, resultante de um contrato social entre os membros de uma comunidade?

De todas as contribuições para os estudos lingüísticos, sem sombra de dúvida, a dos estóicos ocupa um lugar relevante, não somente para o estudo da língua grega, como também por servir como ponto de partida para os posteriores estudos das línguas indo-européias, em geral.

Segundo a filosofia estóica, a conduta correta humana deveria pautar-se em se buscar viver em conformidade com a natureza, e assim, pois, o verdadeiro conhecimento consistiria em colocarem-se em consonância, idéias e natureza. Partindo-se desse pressuposto e, sendo a língua, veículo do pensamento, os estudos lingüisticos ocupavam lugar essencial nesse sistema filosófico.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

“May”, “Might” e Particípios Adverbiais

Autor: Bill Mounce (William B. Mounce)
Tradução: Leonardo Felicissimo
Original: BillMounce.com
Me deparei com Mateus 2.8, e ele destaca duas coisas sobre as quais falei no passado.(Aviso: este é um blog ligeiramente técnico sobre Grego)
A primeira é a força de um particípio adverbial aoristo seguido por um imperativo. Herodes diz, “Ide (πορευθέντες) e buscai diligentimente (ἐξετάσατε) pela criança; e quando tiverdes encontrado, participai-mo (ἀπαγγείλατε), para que (ὅπως) eu vá e o adore (προσκυνήσω).”
A estrutura do participio adverbial πορευθέντες seguido do imperativo ἐξετάσατε é similar a construção da Grande Comissão: “ide e fazei discipulos” (πορευθέντες ... μαθητεύσατε). Tem sido por vezes argumentado que “Ide” não carrega consigo força de imperativo. A resposta gramatical (veja Wallace, Greek Grammar Beyond the Basics, página 645) é que o particípio obtem força do imperativo e assim pode ser traduzido imperativamente.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Bíblia Hebraica contém História?

Autor: Joseph Kelly
Tradução: Leonardo Felicissimo
Original: Kolhaadam

A resposta para a pergunta – A Bíblia Sagrada Contém História? – em última análise, depende de como se entende o conceito de história. Este é um assunto complicado, algo que eu não estou interessado em abordar aqui. Meu interesse é simplesmente reconhecer que é preciso ter uma definição estreita da história, se o que se pretende é responder “não” para a questão proposta.

Existem inúmeros fatores que são relevantes para a questão. Eu particularmente me sinto intrigado pelas numerosas referências na Bíblia Hebraica de fontes literárias extra-bíblicas:

1. O Rolo das Guerras de YHWH (Nm 21.14)

2. O Rolo de Jashar (Js 10.13; 2 Sm 1.18)

3. O Rolo dos Atos de Salomão (1 Rs 11.41)

4. O Rolo das Crônicas dos Reis de Israel (1 Rs 14.19; 15.31; 16.5,14,20,27; 22.39; 2 Rs 1.18; 10.34; 12.19; 13.8; 14.15,28; 15.11, 15, 21, 26, 31; 2 Cr 33.18)

5. O Livro das Crônicas dos Reis de Judá (1 Rs 14.29; 15.7, 23; 22.45; 2 Rs 8.23; 14.18; 15.6, 36; 16.19; 20.20; 21.17, 25; 23.28; 24.5)

6. A Midrash do Profeta Iddo (2 Cr 13.22)

7. O Rolo dos Reis de Israel (1 Cr 9.1; 2 Cr 20.34)

8. O Rolo dos Reis de Judah e Israel (2 Cr 16.11; 25.26; 27.7; 32.32; 35.26-27; 36.8)

9. Obra sem título escrita por Isaias sobre um personagem não proeminente no livro bíblico de Isaías (2 Cr 26.22)

10. A Midrash do Rolos dos Reis (2 Cr 24.27)

11. O Rolo dos Registros de seus Pais (Ed 4.5)

12. O Rolo da Genealogia dos que Subiram Primeiro (Ne 7.5)

13. O Rolo das Crônicas (Ne 12.23)

14. O Rolo das Crônicas (Et 2.23)

15. O Rolo das Crônicas dos Reis de Média e da Persia (Et 10.2)

(“Rolo” é a tradução do hebraico ספר, embora o hebraico dê idéia de uma inscrição ou algum outro tipo de meio de escrita. As versões se referem a estas obras como livros, o que é um anacronismo lamentável)

Quais são estas fontes, e elas de fato existiram? Tais fontes são características de que vemos ser composto preservado em culturas vizinhas onde uma herança literária da Idade do Ferro foi preservada. Definitivamente, falar além disso vai além da evidência disponível. No entanto, a evidência disponível sugere que algumas destas obras foram provavelmente compostas, especialmente em circulos reais no antigo Israel e Judah.

Naturalmente, isto não se diz do caráter de tais fontes. Elas apresentam seu material de um modo desinteressado e empenham-se pela objetividade, ou são elas ideologicamentes motivadas e tendenciosas em sua apresentação? Questões como estas levantam interessantes e importante caminhos de investigação.

Todavia, se ela utiliza material arquivado no antigo Israel e Judah como fonte de material para as narrativas que constrói, então, em termos gerais, a Bíblia Hebraica, contém efetivamente história.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cabeçalho de Marcos (Mc 1.1)

Autor: Manuel Rojas

Estou expondo o evangelho de marcos aos domingos a noite. Se Deus quiser, quero postar alguns relances que espero ser de utilidade para um estudo mais aprofundado deste santo evangelho. O Segundo Evangelho inicia-se com estas linhas:

Ἀρχὴ τοῦ εὐαγγελίου Ἰησοῦ Χριστοῦ [υἱοῦ θεοῦ].
ΑΡΧΗΤΟΥΕΥΑΓΓΕΛΙΟΥῙῩΧ̄ῩῩῩ(ΤΟΥ)Θ̄Ῡ

Esta oração não possui predicado e funciona como um cabeçalho. Ao meu ver, o substantivo articulado Ἀρχή (“princípio”) é versátil, ou seja, se pode aplicar a toda a obra e ao prólogo, a porção compreendida em Mc 1.1-13 (ou até v. 15). O uso de substantivos articulados no início de um escrito se ajusta ao estilo tipicamente bíblico. Tanto o Primeiro Evangelho bem como o livro de Apocalipse têm substanticos articulados em seus cabeçalhos. Esta classe de cabeçalhos com substanticos articulados ocorre com frequência nos escritos proféticos. Isto seria uma indicação de que a oração na abertura do segundo evangelho constitui um cabeçalho para a obra. Devido o uso desta palavra no início do texto da versão grega de Gênesis: ἐν ἀρχῇ ἐποίησεν ὁ θεὸς τὸνοὐρανὸν καὶ τὴν γῆν (Gênesis 1.1 – LXX) e no prólogo do quarto evangelho: Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος, καὶ ὁ λόγος ἦν πρὸς τὸν θεόν,καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος (João 1.1). Alguns tem compreendido este cabeçalho como uma intenção por parte do autor do Segundo Evangelho em vincular sua obra com o relato da criação. No entanto, o uso de ἀρχή em Gênesis e Marcos é diferente. O único aspecto que possuem em comum é a utilização da mesma palavra, mas [ainda assim] sua utilização em Marcos é diferente de sua utilização em Gênesis. Em Marcos não se trata do princípio de tudo, senão do “princípio [Ἀρχὴ] do Evangelho [τοῦ εὐαγγελίου]”.

Fonte: Estudios Bíblicos

terça-feira, 8 de novembro de 2011

[Comentário] Salmo 1 – João Calvino

Quem quer que tenha feito a coletânea dos salmos em um só volume, seja Esdras ou alguma outra pessoa, parece ter colocado este Salmo no início à guisa de prefácio, no qual o autor inculca a todos os piedosos o dever de se meditar na lei de Deus. A suma e substância de todo o Salmo consistem em que são bem-aventurados os que aplicam seus corações a buscar a sabedoria celestial; ao passo que, os profanos desprezadores de Deus, ainda que por algum tempo se julguem felizes, por fim terão o mais miserável fim.

"Bem-aventurado é o homemque não anda segundo o conselho dos ímpios nem se detém na vereda dos pecadores, nem se assenta junto com os escarnecedores. Seu deleite, porém, está na lei de Jehovah; e em sua lei medita dia e noite" (v. 1,2).

1. Bem-aventurado é o homem - A intenção do salmista, segundo expressei acima, é que tudo estará bem com os devotos servos de Deus, cuja incansável diligência é fazer progresso no estudo da lei divina. Já que o maior contigente do gênero humano vive sempre acostumado a escarnecer da conduta dos santos como sendo mera ingenuidade e a considerar ser labor como sendo total desperdício, era de suma importância queu o justo fosse confirmado na vereda da santidade, pela consideração da miserável condição de todos os homens destituídos da benção de Deus e da convicção de que Deus e ninguém é favorável senão àqueles que zelosamente se devotam ao estudo da verdade divina.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Sobre as formas de tradução bíblica

Neste breve artigo vamos abordar as diferentes formas de tradução do hebraico bíblico. De forma geral, existem pelo menos quatro tipos específicos de tradução, a saber: ultraliteral, literal, idiomática e livre. Dependendo dos objetivos do tradutor, cada um destes tipos terá um grau diferente de importância.

Tradução Ultraliteral

Essa tradução não se preocupa em considerar o sentido geral da passagem. A preocupação neste tipo de tradução é verter palavra por palavra de um texto para uma outra língua, buscando os termos correspondentes mais exatos. Este tipo é o mais indicado para o estudante que está iniciando seus primeiros passos no campo semântico da tradução, porém não tem grande utilidade para o leitor, uma vez que o resultado final desta tradução pode ser extremamente literal e, em alguns casos, até mesmo incompreensível. Um exemplo de tradução ultraliteral, palavra por palavra, ficaria assim: