segunda-feira, 23 de março de 2015

O real sentido da liberdade

Pêssach é a festa da libertação. A passagem da totalidade de um povo, da escravidão para a liberdade. Ou melhor, a transformação de uma multidão de escravos em um povo livre! Livre, para quê? Para seguir qualquer rumo? Para que cada um escolhesse o caminho que lhe parecesse mais apetecível? Para reproduzir a degeneração da sociedade onde fora escravizado? Não. Livre para aceitar a missão de praticar a justiça, defender os órfãos, as viúvas e todos os oprimidos, alcançar os mais altos padrões de moral, dignificar a família e difundir o monoteísmo ético para toda a humanidade.

Uma missão inimaginável ante os padrões de iniqüidade, imoralidade e injustiça vigentes naquela época. Um caminho cheio de obstáculos a ser seguido, que se estende na dimensão do tempo, entre avanços e recuos, e que continua em nossos dias.
Detenhamo-nos, agora, num comentário sobre um dos trechos da Hagadá (narrativa) de Pêssach, que diz: “Por isso, mesmo que sejamos todos sábios, cultos, anciãos e conhecedores profundos da Torá, é nosso dever narrar o Êxodo do Egito; e aquele que a isso bastante se dedicar, merece ser elogiado.”
Conta-se que, em uma grande cidade, estava anunciada uma convenção, à qual deveriam comparecer os maiores negociantes e colecionadores de jóias.
Um grupo deles viajava num navio que, em sua rota, enfrentou terrível tempestade, da qual escapou milagrosamente.
Ao aportar na cidade da convenção, onde uma multidão ansiosa os aguardava, os passageiros se apressaram a descer e manifestar sua satisfação pela salvação alcançada.
O colecionador de pérolas se aproximou do grupo de patrocinadores, que deveria receber os participantes da convenção, e disse: “Em gratidão ao Eterno, pelo que fez por mim, quero financiar a construção de um grande Templo.”
O colecionador de rubis, porém, não deixou que ele se estendesse em seu pronunciamento e afirmou: “Eu financiarei o Templo, pois o Eterno fez mais por mim do que por este colecionador de pérolas.”
Nem bem terminara de falar, o colecionador de diamantes gritou: “Eu é que financiarei o Templo, pois foi por mim que o Eterno fez mais!”
Sem entender a razão da discussão, um dos patrocinado-res perguntou: “Mas afinal, o Eterno não salvou a vida de cada um de vocês? Ele não fez o mesmo por todos?”
O negociante de pérolas se apressou a responder: “Ele fez muito por mim porque, além da minha vida, salvou minha coleção de pérolas, que é de inestimável valor.”
O negociante de rubis, porém, afirmou: “Ele fez mais por mim porque, além da minha vida, salvou minha coleção de rubis, que é única no mundo.”
O colecionador de diamantes corrigiu: “Ele fez mais por mim, pois salvou minha coleção de diamantes que tem maior valor que suas duas coleções juntas!”
Essa história nos ajuda a compreender aquele trecho da Hagadá. Isto porque o Eterno, nosso Deus, não somente salvou nossa vida, trazendo-nos da escravidão para a liberdade, mas, além disto, nos deu o maior de todos os tesouros: Sua sagrada Torá. Quanto mais conhecedores da mesma, mais experientes na vida, mais sábios ou mais inteligentes formos, melhor perceberemos a extraordinária dimensão que Ele acrescentou às nossas vidas ao conceder-nos tão maravilhoso presente.

Cônscios da importância da Torá em nossas vidas, mergulhemos no estudo da história de nossa libertação do Egito, com todo vigor e toda dedicação possível.

Caminhemos através dos shabatot que antecedem Pêssach, recebendo cada uma de suas mensagens e, desta forma, preparemo-nos para celebrá-lo com a consciência de vivermos como um povo – praticando “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, participando da luta pelos direitos universais de todos os homens, mantendo-nos íntegros, mesmo que cercados por falsidades, calúnias, ódios e incompreensões, livres de ditames de sociedades injustas, aceitando somente o jugo da Torá, sabendo honrar nossos antepassados e dando exemplos valorosos às novas gerações.
Desta forma, certamente, Pêssach terá mais significado e a visão messiânica de nossos profetas estará mais próxima de se tornar realidade.

(Adaptação de uma história do Maguid de Dubno)

Extraído do livro Na Espiral do Tempo – Uma viagem pelo calendário judaico, de David Gorodovits

Fonte: Sefer Online

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