quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A Importância da Língua Grega para os Estudos da Teologia Bíblica do Novo Testamento - Leonardo Felicissimo

Leonardo Martins Felicissimo

Sempre que um assunto relacionado aos idiomas bíblicos originais é abordado, um pânico surge para os que estão envolvidos com o texto bíblico sejam, Seminaristas, Professores, Leigos, ou Autores. Este sentimento de preocupação diante dos idiomas originais não é algo a ser tratado com insignificância, pelo contrário, o alto nível de dificuldade do trabalho com as línguas originais Grego, Hebraico e Aramaico é reconhecido pela maioria dos gramatas. A análise de modos, aspectos, casos, tipos, declinações, prefixos e sufixos causam em não poucos estudiosos o pavor de relembrar as inúmeras regras de análise sintática, morfológica e aspectos verbais.

Infelizmente, o trabalho que se deve ter para a produção de uma exegese de um texto bíblico, ou a simples verificação da palavra no original, tem feito com que alguns negligenciem a importância do conhecimento dos idiomas originais, e estes levam muitos outros a desprezarem o trabalho gracioso de compreender o texto bíblico em seu idioma original. Nos dias de hoje, não são muitos os que se esmeram por dedicar-se ao estudo dos idiomas originais na preocupação de transparecer mais a opinião das Escrituras ao invés de suas próprias reflexões “reveladas” ou as reflexões filosóficas de seus teólogos liberais favoritos. Esquecemos que os grandes estudiosos da história da teologia esforçaram-se por aplicar-se ao idioma original partindo daí para uma aplicação que fosse condizente com o que o autor do texto bíblico se propôs a repassar em seu tempo.


Podemos entender que um grande fator que contribui para a negligência do estudo do idioma original do texto bíblico está concentrado na opção do tipo de teologia utilizado para produzir uma aplicação doutrinária. Opta-se pela Teologia Filosófica ou Histórica (Sistemática) em detrimento da Teologia Bíblica. Mentes voltadas aos pressupostos históricos, discutidos por outros teólogos ou filósofos do que a partir do texto no idioma original das Escrituras. As facilidades pragmáticas de nosso tempo impedem alguns de pregar mensagens sobremodo relevantes e cativantes como os heróis da reforma protestante (Calvino e Lutero por exemplo) e avivalistas da estirpe de Jonh Wesley, que se preocupavam em buscar como única fonte para suas reflexões teológicas o sentido original do texto bíblico.

Quando falamos de Novo Testamento; isto, por sua vez, só pode ser uma realidade se compreendermos a função da Teologia Bíblica, para a partir de então perceber a importância e o impacto do texto Grego para os estudos teológicos.

O que se entende por Teologia Bíblica?

Podemos chegar a uma melhor compreensão do significado de Teologia Bíblica a partir do conhecimento dos demais tipos de teologia e de suas ferramentas de estudo das doutrians bíblicas.

Por Teologia Sistemática entendemos aquela que se utiliza da normatização histórica das doutrinas bíblicas e dos pensamentos teológicos contemporâneos para contextualizar as doutrinas bíblicas e apresentar as soluções da fé para os problemas da sociedade.

Por Teologia Filosófica, entendemos a teologia que busca no estudo da filosofia e de suas relações com as doutrinas bíblicas a base para argumentação e reformulação dos pensamentos bíblicos à sociedade contemporânea.

Por Teologia Histórica, poderíamos compreender aquela que apresenta as doutrinas bíblicas evidenciada nos escritos dos Pais Apostólicos, Apologistas, Filosofos Cristãos, Concílios Eclesiásticos e teólogos modernistas.

E a Teologia Bíblica? Em que consiste o estudo da Teologia Bíblica? As ferramentas para o estudo dos tipos de teologias citados acima variam entre História, Filosofia, História e Filosofia (Sistemática), todavia, o que entendemos por Teologia Bíblica é a apresentação das doutrinas bíblicas utilizando como único ponto de partida as informações do Autor, do livro, cultura e situações que rodeiam a narrativa bíblica. A Teologia Bíblica é a teologia que se desapega dos pensamentos históricos e contemporâneos para focar-se na intensão primária do autor em apresentar a doutrina bíblica.

Charles Ryrie apresenta definições que corroboram com o que apresentamos quando diz: “A Teologia Bíblica tem na Bíblia a sua fonte” e ainda: “A Teologia Bíblica é centrada no contexto histórico e geográfico no qual ocorreu a revelação de Deus”. Diferente da Teologia Sistemática, a teologia Bíblica, antes de atentar-se para as formulações doutrinárias históricas ou de base filosóficas, atenta-se para o que a intenção do autor quando apresenta o texto doutrinário, buscando a partir da revelação de Deus nas Escrituras a formação do pensamento teológico.

A Importância do Grego para a Teologia Bíblica

Jonh Wesley nos apresenta comentários interessantes como ponto de partida da compreensão da importância do grego para os estudos da Teologia Bíblica: “Conheço grego e hebraico? De outra forma, como poderei (como faz todo ministro) não somente explicar os livros que estão escritos nessas línguas, mas também defendê-los contra todos os oponentes? Estou à mercê de cada pessoa que conhece, ou pelo menos pretende conhecer o original? ...Entendo a linguagem do Novo Testamento? Tenho domínio sobre ela? Se não quantos anos gastei na escola? Quantos anos na universidade? E o que fiz durante esses anos todos? Não deveria ficar coberto de vergonha?”

O comentário do grande avivalista faz-nos dobrar de vergonha diante a tamanha negliência de nosso tempo com relação aos estudos da Teologia Bíblica. Sabemos o Grego como ferramenta para os estudos do Novo Testamento há muito não é utilizado. São poucos os autores que se esmeram por realizar uma análise coerente da estrutura literária, da sintaxe e da semântica das palavras gregas, o que sem dúvida é de grande importância para a extração de uma verdade bíblica dos textos estudados.

Sendo a Bíblia a principal ferramenta na Teologia Bíblica, e a compreensão do Autor o caminho para o entendimento do ponto teológico apresentado é de grande importância o domínio sobre a língua grega, para que se entenda não somente o significado das palavras por parte do autor mais a maneira como suas palavras soam para os receptores e os vínculos com outros textos bíblicos ou outros princípios evidenciados em outros textos.

É através do estudo do grego que podemos perceber que há uma diferença na narrativa de Jesus em João 21.15-17, onde Jesus se direciona para Pedro utilizando duas palavras diferentes para para amor: αγαπε e φιλεο. O que diríamos do texto de João 1.1 que é de grande importância no diálogo com as Testemunhas de Jeová, que em sua tradução apresentam um artigo indefinido “o verbo era um deus”, uma vez que o texto grego apresenta, artigo definido para a primeira ocorrência da palavra θεος: “εν αρχη ην ο λογος και ο λογος ην προς τον θεον και θεος ην ο λογος”.

Estas são simples citações em que a compreensão do texto grego pode apoiar o estudo da Teologia Bíblica. Obviamente muitos outros casos poderiam ser apresentados aqui e estes casos são abordados por autores como D. A. Carson, Wayne Grudem, Daniel B. Wallace, Russell Shedd, William D. Mounce, Grant R. Osborne em suas obras teológicas.

Não se pode negligenciar o estudo das línguas bíblicas. O que nos cabe enquanto envolvidos com a Teologia Bíblica, é compreendermos que, não há como pensarmos em uma Teologia Bíblica, coerente com as Escrituras e com o que ela se propõe a fazer (analisar a partir da perspectiva do autor) sem que nos atentemos para o idioma original de um texto (Grego no caso do novo testamento). Este importante ato demonstra nosso amor ao texto bíblico na busca de compreender a escrita do autor e a maneira em que se propôs a desenvolver o texto bíblico do Novo Testamento.

4 comentários:

  1. Na minha infância muitas casas não tinham água encanada, inclusive a casa que eu morava, por isso íamos buscar água na fonte de água. tinha um irmão preguiçoso, ele não gostava de buscar água na fonte, da minha parte era muito bom, eu tomava banho a vontade pois a fonte estava ao meu alcance, porem para ele (meu irmão) era apenas um balde pequeno mirrado para lavar todo seu corpo. a fonte nos fornece abundancia, o balde nos limita o saber.

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